A operação realizada pelo exercito brasileiro na fronteira comum com Paraguai, chamada “Fronteira Sul 2”, foi tema de debate entre parlamentares de ambos países.
O primeiro parlamentar em se referir ao tema foi o paraguaio Nelson Alderete.
Alderete começou lembrando a exposição realizada pelo Ministro Nelson Jobím no Parlamento do MERCOSUL. O parlamentar disse mostrar-se comprazido ao escutar naquela ocasião os termos “diplomacia militar” e “ações de consenso”, usadas pelo Ministro de Defesa brasileiro. “Mas por um lado dize-se uma coisa e por outro lado faz-se outra”, assinalou Alderete. A seu entender, estas ações tentam frear aos consumidores brasileiros que escolhem o Paraguai para fazer suas compras. Alderete assegurou que dois helicópteros da Força Aérea Brasileira violaram o território paraguaio e finalizou sua exposição durante o tema livre da XIV Sessão Plenária do Parlamento do MERCOSUL, dizendo que estas ações têm um fim “claramente intimidante e amedrontador”, lamentando ademais, que “os recursos retóricos superem aos fatos” e pedindo ajuda para formalizar o comércio existente em Ciudad del Este.
A parlamentar brasileira Marisa Serrano contestou a Alderete dizendo compreender as preocupações dos paraguaios, já que ela nasceu na fronteira com dito país na cidade de Bela Vista, mas assinalou que tais operações sempre foram feitas. “Quero tranqüilizar ao Paraguai e dizer que Brasil está inteiramente interessado e comprometido com a integração”, disse.
Serrano informou que já está em tramitação no Senado brasileiro um projeto que trata da questão dos pequenos comerciantes, também chamados de “sacoleiros”. “Creio que no fim do mês este tema estará resolvido”. A parlamentar também disse acreditar que o Parlamento do MERCOSUL é o espaço para debater principalmente os temas com dissenso e não somente aqueles nos que há consenso, já que o mesmo foi constituído fundamentalmente para fortalecer e favorecer a integração regional. “Acredito que os problemas bilaterais não vão ser solucionados com um diálogo unilateral. Eles devem ser dialogados bilateralmente e no bloco. Só por meio do diálogo solucionaremos estes temas” assinalou.
O segundo legislador paraguaio em referir-se ao tema foi Eric Salum, quem disse estar reiterando o pedido dos comerciantes ao manifestar a posição destes cidadãos. Dado que tem causado “soçobra”, Salum indicou que a notificação da chancelaria chegou na mesma manhã que as tropas brasileiras se instalavam na cabeça da ponte. Logo de criticar as declarações de um General brasileiro, as quais ele qualificou de “inoportunas”, reclamou “umas Forças Armadas obedientes, não deliberantes”.
Salum criticou que Brasil por um lado “propõe Forças conjuntas e atua de forma unilateral”.
O parlamentar paraguaio Ángel Barchini reafirmou que o Parlamento do MERCOSUL é o foro político sul-americano. “Aqui temos que discutir, não encontraremos as respostas na hipocrisia das chancelarias”, sentenciou Barchini, quem finalizou citando a Simón Bolívar “o século XXII nos encontrará unidos ou dominados”.
Outro parlamentar que se referiu ao tema foi o paraguaio Ricardo Canese, quem enfatizou que tem sido uma ação inoportuna e a fora de tempo, a qual responde a um esquema do passado.
O parlamentar disse que o “inimigo” está fora do MERCOSUL, quem solicitou que a Comissão de Defesa do Parlamento do MERCOSUL analise o tema e recomende.
O parlamentar brasileiro Aloizio Mercadante garantiu que os paraguaios não foram surpreendidos pela operação, já que a chancelaria do país tinha sido avisada há cinco meses e contestou confirmando o recebimento da informação que foi reenviada no dia anterior da ação. A respeito das declarações do general brasileiro, Mercadante assinalou o mesmo que disse ao contestar a um jornalista, não falava em nome do governo brasileiro. “Quero recordar que Brasil não tem conflitos militares com os países vizinhos há mais de 100 anos”, destacou. “Não podemos pautar nossas intervenções parlamentarias por titulares de jornais, pois se assim fosse, este Parlamento não existiria”, reforçou.
O parlamentar brasileiro recordou que os conflitos de terras existentes no Paraguai também existem no Brasil. “Mas não consigo compreender como um conflito como estes se volta contra os brasiguaios”. Mercadante defendeu a existência do respeito e reciprocidade na retirada daqueles que estão ilegais nos países mais destacou que “a verdadeira integração só existirá no dia que as fronteiras não tenham mais sentido de existir”.
Sobre o comércio informal Mercadante, assim como Serrano, apontou ao Projeto “Sacoleiro” que tramita no Congresso Brasileiro e disse que está se fazendo o possível para a aprovação rápida do mesmo que regulamentará o comercio existente na fronteira. “Um comércio que é muito bem-vindo entre os dois países”, assinalou.
(FOTO: Agência Senado)