A Comissão de Educação, Cultura, Ciência, Tecnologia e Esportes do Parlamento do MERCOSUL aprovou nesta terça-feira (10 de fevereiro) uma recomendação ao Conselho do Mercado Comum (CMC) para que o guarani seja considerado idioma oficial do MERCOSUL e se converta em idioma de trabalho do bloco regional, como o espanhol e o português. Autor da proposta, o parlamentar paraguaio Héctor Lacognata disse que há cerca de 15 milhões de pessoas que falam o guarani e vivem no Paraguai e em regiões da Argentina, da Bolívia e do Brasil. A decisão da comissão será ainda submetida ao Plenário. Se ela for confirmada pelo conjunto do Parlamento e adotada pelo Conselho, todos os documentos do bloco e também os pronunciamentos nos diferentes eventos do MERCOSUL terão de ser traduzidos para o guarani.
Héctor Lacognata defendeu sua proposta na reunião. Ele disse que a iniciativa foi resultado do trabalho de setores importantes do Paraguai e que a educação no seu país é feita tanto em guarani quanto em espanhol. Ainda segundo o autor, há parlamentares paraguaios que provavelmente se expressariam com muito mais facilidade no guarani, que é sua língua materna.
Na justificação da recomendação, Héctor Lacognata lembra que, em agosto de 1995, os ministros de Educação e Cultura dos países membros do MERCOSUL - Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai - declararam o guarani língua histórica do bloco. Lembra também que o CMC, em 2006, considerou o guarani como um dos idiomas do MERCOSUL.
O parlamentar paraguaio destaca que o Guarani é idioma oficial no Paraguai desde 1992 e que 85% da população do país fala essa língua, de forma exclusiva ou combinada com o espanhol. E registra que a província argentina de Corrientes declarou, no final de 2005, o guarani como idioma oficial, ao lado do Espanhol. Segundo Hector Lacognata, o guarani é a língua autóctone mais falada da América Latina.
Universidade brasileira
Na discussão da matéria, a presidente da comissão, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), informou que a Universidade Federal em Dourados (MS) criou, no ano passado, uma cátedra de guarani. Ela disse também que o reconhecimento do guarani como língua oficial do MERCOSUL é importante e que a adoção do guarani como idioma de trabalho é difícil, "mas não impossível". Para a senadora, a Mesa do Parlamento deverá definir as providências necessárias para que o guarani possa converter-se em idioma de trabalho na instituição.
Já o deputado paraguaio Nelson Alderete disse que o guarani é uma língua viva, um elemento aglutinador: "Vamos resgatar nossa identidade a partir de nossa cultura original", defendeu. Também paraguaio, o deputado Ricardo Canese informou que pesquisa feita em seu país no período eleitoral indicou que 62% dos entrevistados gostariam que o presidente se dirigisse a eles em guarani.
Rita Nardelli / Agência Senado